Duas irmãs
“Porque o sangue é
mais forte que a água”
Ela tinha 2 anos, 7 meses e 10
dias quando eu nasci. Minha primeira amiga.
Na nossa tenra idade, brincávamos
de boneca, casinha, brincadeiras de rua com as outras crianças da vizinhança. Ah,
como éramos crianças felizes, livres, soltas, sempre com o olhar atento de
nossos pais a nos guiar e proteger.
Eu sentia ciúmes quando outras
meninas se aproximavam dela, em especial da Patrícia, amiguinha querida que
vítima de leucemia morreu tão jovem. Ao me recordar de sua reação mediante a
esse acontecimento percebo o quanto ela sofreu com essa despedida.
A primeira lembrança que eu tenho
mais marcante de nós duas é: - sair em disparada de uma Festa Junina na escola
em que ela estudava, em busca do colo da minha mãe.
Veio a adolescência, com ela as
brigas, muitas brigas. Nem sempre éramos amigas. Eu a irritava. Ela me
irritava. No entanto, vieram também as descobertas e os caminhos abertos. As
confidências, os complexos pelo corpo mais encorpado que o dela, com a beleza
dela sempre se destacando. Um dia ela me disse a seguinte frase: “Quando você
começar a namorar, ninguém segura...” Não foi bem assim, mas a paixão me fez
deixar de participar do seu chá de cozinha. A meu ver não era importante. Hoje,
me recordo, e deixo aqui meu pedido de desculpas pela ausência.
Vieram os preparativos do
casamento e, no grande dia, quando a vi toda de branco, linda, plena, uma
princesa... Chorei compulsivamente. Um misto de emoções me tomou e explodiu em
lágrimas.
Ah, nosso quarto! Quantas
conversas, risadas, confidências, micos, músicas compartilhadas. Muita MPB.
Muitas noites ao som de Djavan, Flavio Venturini, Zé Geraldo, 14 Bis, Marisa
Monte. Por muito tempo essa foi a trilha sonora de noites memoráveis. Tão memoráveis
que algumas músicas ao fechar os olhos, me fazem voltar no tempo e reviver
momentos só de nós duas.
Na vida já adulta, cada uma
seguiu o caminho que mais combinava consigo ou que era possível. Quando ela
teve o primeiro filho, me assustei. O que aconteceu com ela? Anos depois, eu
entenderia como ninguém aquele olhar, aquele silêncio.
Também na vida adulta, perdemos
nosso pai. Perda que nos uniu mais ainda para encontrarmos força uma na outra
para seguir em frente, preservando a memória de quem sempre nos ensinou lição
de integridade, responsabilidade e amor.
Tivemos momentos de
distanciamento. Porém, com a maturidade, nós enxergamos quem sempre estará do
seu lado, independente do que aconteça. Posso resumir que ela me abriu muitas
portas. Então, a vida foi sempre mais “fácil” para mim do que para ela. Ela enfrentou,
se esforçou e conquistou. Eu fui de carona.
Hoje e desde sempre, quando eu
desabo é ela que me estende a mão e me apoia totalmente, sempre muito solícita
a ouvir meus desabafos. Sabe que não estou no meu melhor dia sem nem mesmo
falar comigo, a quilômetros de distância. Durante muito tempo, no meu período
terapêutico, eu conversava com ela após sair de cada sessão. Para relatar tudo
e ela ouvia atentamente, contribuindo ao longo de todo processo. Isso explica muito de nossa relação... A vida
sempre foi mais simples porque a tenho comigo. Obrigada por me escutar, por me
ajudar a resgatar a confiança em mim, e por me fazer sentir, sem palavras
proferidas, que você sempre vai estar ao meu lado haja o que houver.
TE AMO!
Foto: Ludimila Freitas
Colaboração e revisão de texto: Andrea
Rodrigues
Comentários
Postar um comentário