Doce Natal
“Aquele
que tem caridade no coração tem sempre qualquer coisa para dar” (Santo
Agostinho)
O dia de verão um tanto
cinzento não tirou o brilho dos olhos e a emoção dos corações envolvidos na
ação de natal planejada há poucos meses por pessoas comuns movidas pela caridade
e pela vontade de doar um pouco a quem nada tem.
A arrecadação era de doces,
destes que adoçam e por vezes acalmam vidas amarguradas, nem que por instantes
ao menos. A colaboração foi impressionante e tudo foi transformado em saquinhos
recheados de guloseimas gerando centenas de sorrisos e alegria pelas ruas da
periferia do Capão Redondo.
O que move pessoas comuns a
serem caridosas? Religião, amor, espírito natalino? Sim e não. A caridade brota
do desejo de ser melhor, de fazer melhor, de olhar para trás e para dentro.
Quando a carreata (três carros particulares destas pessoas comuns) iniciou o
seu trajeto, por ruas, becos,vielas e favelas, cada um dos ocupantes carregava
em si ansiedade e euforia difíceis de transpor em palavras. O que viria pela
frente?
De início de maneira discreta,
e depois virou uma verdadeira festa de buzinas para chamar a atenção, para ver
mais e mais crianças, pais, avós e bisavós sorrindo. A cada saquinho de doce distribuído,
histórias eram contadas nos olhos, nos sorrisos, nas palavras, o retorno é
imensamente maior, toca a alma. Mãos sujas, pés descansos, cabeços
desgrenhados, correria mais ainda sim o sorriso e as lágrimas nos olhos de
alguns (em particular de uma senhora sem dentes que pediu os doces para ela)
denunciava a alegria espontânea e as reações mais inusitadas possíveis (dança,
pulos, pais pedindo para esperar por seus filhos, criança chorando e correndo
por pensar que ficaria sem o saquinho, vizinhos chamando e ajudando outras
crianças), não pelo que continha no saquinho apenas, mas pela esperança
renovada ao ver que a caridade perpetua e que eles não estão esquecidos em seus
extremos.
E, sim, o trânsito foi
interrompido em algumas vias e o que recebíamos em troca era paciência,
sorrisos e olhares de aprovação.
Nos bastidores da ação a
comunhão, amizade, emoção, rimos e nos emocionamos muito. Somos movidos pelo
desejo de espelhar alegria, cada sorriso abraça nossas iniciativas e renova a
esperança para que tudo seja feito de novo e melhor.
Se não podemos mudar o mundo
todo, todos que contribuíram com as doações e entregas puderam mudar o mundo de
alguns, por alguns minutos ao menos na tarde de ontem. E, sobretudo, a mudança
particular de cada um, ao perceber que sim, é possível fazer diferença e o bem
apesar de toda a maldade que nos rodeia. E que a simplicidade, entrega e doação
dessa ação se espalhe, fazendo mais e mais crianças felizes.
Feliz Natal!
“O que eu faço é uma gota no
meio de um oceano. Mas sem ela, o oceano será menor.” (Madre Teresa de Calcutá)
Texto: Andrea Rodrigues e Neide
Costa
Foto: Mylena Oliveira
Participação especial: todos os
doadores e voluntários
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