O futuro é logo ali


“Quem aprende sou eu...
Mundos diversos em sua complexidade
Tento entrar na mente dessa mocidade.
Um tanto confuso que entro às vezes em parafuso
Por não entender a busca de cada um em sua interioridade 
O ensinar é um ofício a que me compete
Mesmo com tanta adversidade me rege
Na busca pelo conhecer e transmitir
O caminho que esses jovens precisam seguir 
Afinal, o que ensinar a um jovem que não leu;
Nem Sócrates, Assis, Galileu?
Nessa didática da arte de ensinar...
Afinal, que aprende sou eu...”
(Professor Reinaldo Costa)


O ano era 1987. Ainda lembro-me do seu cheiro, sua elegância e imponência em exigir respeito. No quadro negro as letras cursivas impecáveis pareciam ser desenhadas uma a uma sem faltar ponto, exclamação ou vírgula se quer. Ao avistar aquela mulher de saias lápis, camisa de gola alta e cabelos grisalhos eu não poderia imaginar dos muitos ganhos para minha alfabetização.

Leopoldina tinha esmero em ensinar, era rígida, mas sabia demostrar carinho, vez ou outra afagava seus alunos nos cabelos, se entusiasmava quando o explicado era entendido e transbordava ainda mais de alegria quando o ensinado não era esquecido, demonstrava isso saltando dos sapatos, se fecho os olhos esta cena se replica nitidamente ainda hoje.

Ao menos duas vezes por semana chegava carregada de folhas ainda molhadas de álcool e manchadas do mimeógrafo com atividades complementares para a ‘caligrafia ficar bonita’. Comigo deu certo. Passados 30 anos da minha alfabetização eu jamais a esqueci, fora ela quem assertivamente notou minha necessidade para o uso de óculos, ainda os mantenho e sustendo em minha face com orgulho.

Leopoldina fez morada em meu coração desde a sua primeira aparição e por longos anos achei que poderia dominar a arte de ensinar como aquela esguia mulher, acabei desistindo. Ensinar requer coração, ensinar requer emoção e transbordamento de si mesmo, não sou tão genial como Leopoldina.

Como Leopoldina temos muitos gênios do ensino lutando dia a dia em tempos tão diferentes da década de 80. Sim a palavra é luta, lutam para colocar o ensino como fonte principal de mudanças de vida, lutam para sobreviverem com salários tão pequenos e na grande maioria das vezes insuficiente para o sustento familiar, lutam por recursos de ensino que se adaptem a modernidade do viver on-line, lutam, lutam e lutam.

Figuras centrais de uma sociedade, responsáveis pela educação e pelo conhecimento, são heróis anônimos, tão pouco reconhecidos e valorizados ou respeitados por essa mesma sociedade. Leopoldina, Márcia, Izabel, Cláudia, Elza, Ceci, José, Giuliano, Daisy, Marcos, Wadeco, João Luiz, Heloísa, Cristina, Rose, Valquíria, Miguel, Reinaldo, Gilson, Sandra e tantos outros, todos em missão para formar cidadãos conscientes para que possamos vislumbrar um futuro melhor que o nosso presente.
  
“… a luta em favor do respeito aos educadores e à educação inclui que a briga por salários menos imorais é um dever irrecusável e não só um direito deles.  Luta dos professores em defesa dos direitos e de sua dignidade deve ser entendida como um momento importante de sua prática docente, enquanto prática ética. Não é algo que vem de fora da atividade docente, mas algo que dela faz parte”. (Paulo Freire, 1921-1997).

Revisão de texto e colaboração: Neide Costa



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