Uma visão do Brasil

"Não somos os autores e nem sempre os protagonistas. Fomos vistos, não fizemos vistos, não nos fizemos visíveis. Não pensamos, mas fomos pensados." (Ana Belluzzo)

Muito antes da chegada dos Espanhóis e Portugueses, o continente americano já era habitado. Porém, o que existia na América antes disso, pouco se tem registro. Em relação ao Brasil, houve a descoberta dessa terra e consequentemente, a curiosidade geográfica e humana, o desejo de conquista e o fascínio diante da paisagem exótica.

Houve um súbito interesse pelo nosso país e várias expedições colonizadoras foram mandadas para descrever esse vasto território ao rei de Portugal. A formação da visão que se fez do Brasil, seja ela boa ou ruim, se deve a essas pessoas. Eles foram os atores principais dessa época da nossa história. Eram colonizadores, artistas e cientistas viajantes que se dedicaram em estudar e explorar esse "novo mundo". Como por exemplo, Pero Vaz de Caminha e o português jesuíta Padre José de Anchieta, que paralelamente trouxeram para o Brasil sua cultura.

Assim, temos as primeiras descrições do nosso país, marcadas pela subjetividade cultural do europeu, onde se descreviam a fauna, a flora e o índio, considerado para eles como um selvagem a ser domesticado.

O índio, habitante antigo dessas terras antes inexploradas, foi visto como um ser excêntrico por seus hábitos. Tudo era muito novo para quem chegava de fora, para quem tinha outras vivências. Imaginava-se um lugar inabitado. Os estrangeiros se surpreenderam com a vida que se levava aqui, era estranha, selvagem, precisava ser mudada e adequada ao seu estilo. Os costumes dos índios não eram comuns dentro da sociedade européia, necessitava de mudanças para se construir uma nação civilizada. Os hábitos de nossos índios foram "expulsos", juntamente com ele. E em nenhum momento, havia a preocupação do indio de pensar sobre si mesmo. Tudo era muito natural.

Enfim, hoje muito do nosso olhar no outro sobre nosso país reflete ainda essa frase. O povo brasileiro ainda não pensa sobre si mesmo. Somos pensados, muitas vezes, na maioria das vezes, erroneamente. Aprendemos a aceitar, sem questionar. Tudo o que sabemos trata-se da visão do outro com o domínio de sua cultura sobre a nossa cultura, o olhar estrangeiro. É a revelação e a construção pelo outro, uma expressão de uma nova gente num novo contexto social, histórico e geográfico.

* Texto escrito em 2003 por Joana Araújo e Neide Costa

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