A arte de viver com arte

Como que pisando e plumas, uma doce e sorridente senhora surge na praça principal da cidade no horário combinado para esta entrevista. Rapidamente se apressou em se apresentar, ainda que com certa timidez.
Dona Nair é uma gigante, não em estatura, ela tem um coração enorme, é possível perceber isto logo no primeiro contato. Aos 70 anos sua disposição e físico são de uma jovem, ainda que a bronquite lhe ataque algumas vezes.
Esta gentil senhora é uma artesã. Passou a vida transformando argila em esculturas de bahianinhas e outras peças artesanais, mas seus olhos brilham quando confessa que tem muito prazer em fazer nascer do barro o rosto humano.
Dona Nair já fez muitos bustos e outras tantas peças tiradas de quadros ou réplicas de esculturas de artistas consagrados, não se recorda mais em números quantas são.
Já vendeu suas peças em uma loja que teve em Itapecerica, onde vive desde os quatro anos de idade, “me considero filha desta cidade”, confessa. Hoje já não tem mais uma loja própria, mas continua a vender para uma loja grande de São Paulo que há muitos anos compra peças suas.
Seus trabalhos estão espalhados por muitos cantos do mundo, incluindo Estados Unidos e em toda a Europa, seus bustos incluem Leonel Brizola e Roberto Marinho.
Perfeccionista assumida, todas as suas peças tem que ter riqueza nos detalhes, cabelo e orelhas, por exemplo, tem que ser iguais ao original, ainda que ela tenha apenas uma foto como modelo.
A descoberta para o talento aconteceu ainda na meninice, brincando transformou-se em artista, nunca freqüentou uma escola específica de arte. Seu pai, em toda a sua simplicidade, reconheceu que sua adorável filha sabia lidar com o barro e construiu inúmeros fornos para ela finalizar as peças, as primeiras, feitas de forma bem rudimentar.
Nair nunca pensou em desistir da arte, “eu sabia que não ficaria rica, mas eu sempre gostei de trabalhar com a arte e isto me satisfaz”. Vive com sua amada irmã mais velha, nunca se casou e tem orgulho dos sobrinhos que ajudou a criar. “Eles me dão muito orgulho, sou feliz por ter tidos os pais que tive e pela família que tenho”, completa.
Restauração não é muito comum, ela faz a peça desde o primeiro esboço, mas esta corajosa senhora assumiu a responsabilidade, por pura caridade, de restaurar uma Nossa Senhora Aparecida que tem pelo menos 80 anos, a pedido de um grande amigo.
“Ela estava sem os dedinhos, tinha inúmeros pequenos defeitinhos, a roupa estava muito detonada, mas ela ficou perfeitinha”, diz com um largo sorriso. A peça encontra-se no Santuário Nossa Senhora dos Prazeres. “Eu acredito que o dom vem de Deus e eu sou grata a Ele”. Muito temente, diz que aprendeu com sua mãe as bases de sua fé.
Os olhinhos brilhantes facilmente se enchem de lágrimas, artistas certamente têm de ser sensíveis para transmitir a mensagem que cada objeto único moldado representa.
Dona Nair continua a trabalhar e deseja fazer isto até o fim da vida. Não é adapta a fotografias e comemorações, tendo recebido convites para ir ao exterior preferiu declinar, assim como declinou da fotografia que ilustraria esse texto.
Fica aqui uma homenagem a esta senhora que com docilidade, paciência e amor ao próximo vive a vida com arte.

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