Adeus, Saramago! Adeus, sábio das letras!

Pensar, Pensar
“Acho que na sociedade actual nos falta filosofia. Filosofia como espaço, lugar, método de reflexão, que pode não ter um objectivo determinado, como a ciência, que avança para satisfazer objectivos. Falta-nos reflexão, pensar, precisamos do trabalho de pensar, e parece-me que, sem ideias, não vamos a parte nenhuma”. (Saramago)

É engraçado como algumas pessoas nos marcam para sempre, mesmo que não tenhamos nos conhecido pessoalmente, com sua obra, seus livros e é capaz de nos transformar. Para mim, uma destas pessoas foi José Saramago.

Foi por indicação de uma professora na graduação que tive a oportunidade de ler um dos melhores livros da minha vida: “Ensaio sobre a cegueira”. Nunca havia lido uma obra de Saramago até então e minha vida mudou após essa leitura. Eu passei a enxergar, perceber o mundo e não somente vê-lo.

E mais, de maneira bastante natural, essa indicação foi se espalhando por entre amigos e conhecidos, tal qual a cegueira descrita no livro, de forma que é impossível contar quantas pessoas "voltaram a enxergar" com essa obra ímpar.

Mas Saramago não era de todo desconhecido por mim, pois já tinha ouvido algo sobre ele com 12 anos de idade em uma minissérie, através das críticas que o autor fazia à igreja católica que insistia que os pobres deveriam permanecer pobres para encontrarem o reino dos céus. Inquietante, não? Lembro-me até hoje de como fiquei com um ponto de interrogação e só fui compreender totalmente essa afirmação alguns anos depois.

E agora José? Perdemos Saramago, uma grande perda para o mundo da literatura, mas sua obra fica e será inspiração para muitas e muitas gerações. E que belo legado para a humanidade ele nos deixa, um legado de opiniões fortes e marcantes!

Saramago, Prêmio Nobel de Literatura em 1998, publicou cerca de 30 obras e mostrou ao longo de sua vida sua paixão pela literatura e sempre lutou pela liberdade de pensamento do homem, pela razão e pela bondade, independente de ideologia, filosofia ou religião.

Pois é... Vai-se um homem absolutamente singular, fica a obra eterna. E a sua morte mostra como Saramago foi bom, pois só os bons merecem a graça de morrer de maneira serena, como ele, conversando com sua esposa.

Obrigada Saramago, obrigada mestre. Meu mundo mudou depois de você. E os de muitos também, pois muito cego voltou a ver. Descanse em paz. E mesmo sendo contraditória às suas crenças: “Vai com Deus!”.

"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo."